Gestar é uma dádiva, é um período fascinante na vida mulher, mas requer cuidados especiais, principalmente quando se trata de atividade física. A gravidez implica em uma série de alterações físicas gradativas. Mas são alterações de saúde e não de doença, o que quer dizer que nenhuma gestante necessita ser reabilitada, mas sim treinada, a menos que tenha alguma lesão e esteja num momento de algia (dor).
As demandas musculares e articulares, com o passar das semanas, vão gerando uma necessidade de alterações e adaptações da rotina de exercícios e, para isso, é de extrema importância ter o acompanhamento de um profissional especializado (educadores físicos ou fisioterapeutas) que poderá orientar de forma segura e eficiente a gestante que se propõe a praticar uma atividade física. Aqui, vamos falar do Pilates que é uma ótima opção para gestantes.
Fazendo uma pequena introdução sobre o que é o Pilates: é um método de atividade física criado por Joseph Pilates a fim de trabalhar corpo e mente, quase uma filosofia de vida, que tem como princípios concentração, centralização (ativação do centro de força, POWER HOUSE – músculos abdominais, assoalho pélvico e músculos estabilizadores das costas), respiração, fluidez, precisão e controle.
Através desses princípios, o método vai levar o praticante a conquistar a saúde física ideal. Além disso, o Pilates também dá atenção ao posicionamento pélvico (quadril) e cervical (região do pescoço) e busca estabilidade escápulo-torácica.
Na gestação há alterações significativas osteomusculares, cardiológicas, vasculares, respiratórias e hormonais. Nesse último, destacam-se 5 hormônios que desempenham papel fundamental para a díade mãe-feto: progesterona e estrogênio (responsáveis pela criação das condições ideais para a manutenção da gestação e crescimento do bebê), gonadotrofina coriônica e a somatomamotropina coriônica humana (responsáveis pela nutrição adequada do feto) e a relaxina que promove maior mobilidade aos ligamentos que permitem estabilização as articulações.
Traduzindo, a relaxina tem o poder de afrouxar todos os ligamentos e articulações com o objetivo de preparar o corpo para o momento do parto, “abrir o quadril” para permitir o encaixe e a passagem do bebê no canal de parto, contudo, a estabilidade das articulações fica muito reduzida e por isso é crucial manter força muscular e boa postura. Some à frouxidão ligamentar o enfraquecimento dos músculos das costas, o peso aumentado das mamas, diástase dos retos abdominais (afastamento dos 2 feixes musculares do reto abdominal devido o crescimento da barriga), separação da sínfise púbica, diminuição da capacidade de sustentação do assoalho pélvico …ui! Quanta mudança!
É aí que entra o Pilates! O trabalho de fortalecimento muscular que o Pilates promove compensa o enfraquecimento dos ligamentos ajudando a evitar dores e má postura muito comuns na gestação.
Além disso, o princípio da centralização, que é a ativação dos músculos da Power House (centro de força do corpo composto por músculos abdominais, assoalho pélvico, músculos estabilizadores das costas) faz com que a gestante ative e fortaleça o assoalho pélvico (conjunto de músculos que sustentam útero, bexiga e intestino) que é essencial no momento do parto e também após o parto para evitar incontinência urinária e outros problemas relacionados a esse grupamento muscular.
Assim, com o Pilates podemos fazer uma preparação para o parto normal (vaginal) já que utilizamos o trabalho do assoalho pélvico durante toda a aula. A ideia principal é fortalecer a região, mas também ensinar a relaxar no momento correto. O relaxamento do períneo é primordial para um parto vaginal sem lacerações, mas também é essencial uma boa equipe que não realize intervenções desnecessárias durante o momento do expulsivo (quando o bebê está coroando e nasce), aliás, durante todo o trabalho de parto.
Além disso, o Pilates tem o poder de trabalhar a mobilidade do quadril e sua abertura através de exercícios específicos, como os agachamentos, posições de cócoras e movimentos amplos (mas controlados) de abdução das pernas para FACILITAR (e não garantir) um encaixe do bebê. Não existe “agacha que encaixa”, ok! Agachamentos e movimentos de quadril podem AJUDAR, CONTRIBUIR no encaixe, mas o bebê só vai encaixar quando ele estiver preparado e seu corpo também.
Preciso alertar que nem o Pilates, nem nenhuma outra técnica, são GARANTIA de um parto normal ou de parto sem lacerações. Não compre pacotes de “pilates/ preparação para parto/ parto natural lindo/ períneo íntegro”. Se você deseja muito parir, procure por uma equipe que lhe garanta respeito, segurança e confiança. Médico, doula, enfermeira obstétrica, professor de pilates, fisioterapeuta ou quem quer que seja… o importante é que devem sempre lhe dizer a verdade, ser realistas quanto as possibilidades e principalmente, deixar que você seja a protagonista do seu parto.
Mulheres sabem parir e bebês sabem nascer, não há aula de pilates ou profissional que possa mudar isso!
Lorena Perdigão | Folha Vitória